Olá pessoal! Hoje trazemos para cá um dos artigos que estão sendo produzidos ao longo dos últimos meses. As autoras são duas acadêmicas bolsistas do subprojeto Matemática, Cladilaine e Patrícia. Elas falam sobre as Salas de Apoio à Aprendizagem no Paraná devido à sua experiência pibidiana em uma sala de apoio de matemática no segundo semestre do ano passado. Esperamos que gostem! :)
REFLEXÃO SOBRE SALAS DE APOIO À
APRENDIZAGEM NO PARANÁ
Cladilaine Aparecida Revelino¹
Patrícia Ferro Baptistão²
RESUMO
Este trabalho compara
aspectos teóricos e práticos do programa Salas de Apoio à Aprendizagem da SEED/PR
com base em reflexões anteriores e em entrevistas realizadas ao longo de tais reflexões,
buscando enfatizar que as ideias e objetivos iniciais tem se perdido ao longo
da implantação do programa. É apresentada uma nova reflexão sobre os fatos,
ostentada em normas vigorantes pela Secretaria da Educação do Paraná e na
realidade vivida por participantes diretos. Esta reflexão baseia-se em autores
que tratam do assunto de maneira crítica, como Lino de Macedo e Francismara
Neves de Oliveira, e aponta diversos fatores contribuintes para a má realização
do programa nas escolas. O objetivo principal deste trabalho é contribuir para
a qualificação da “aprendizagem complementar” que os alunos participantes do
programa de salas de apoio recebem atualmente. O presente artigo não apresenta
respostas específicas para as problemáticas dispostas, mas sim novos caminhos rumo
à mesma direção: a completa aprendizagem do aluno.
Palavras-chave
Educação
do Paraná. Sala de Apoio à Aprendizagem. Reflexão. Resiliência.
____________________________
¹ ACADÊMICA de
Licenciatura em Matemática na Universidade Estadual do Norte do Paraná – CCHE,
Turma de 2015. E-mail: cla_jt@hotmail.com
² ACADÊMICA de
Licenciatura em Matemática na Universidade Estadual do Norte do Paraná - CCHE,
Turma de 2015. E-mail: patriciaferro_pf@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO
Em
qualquer área que se trabalhe os desafios diante da implantação de um novo
programa são diversos, e quando se trata de educação não é diferente. Os fatores
responsáveis por tais desafios vão desde o ambiente no qual o programa está
sendo implantado até os reflexos que dele provem.
O
Programa de Salas de Apoio à Aprendizagem foi implantado em 2004, pela
Secretaria Estadual de Educação, e desde então vem sofrendo inúmeras
transformações para que seus fundamentos se encaixem perfeitamente aos alunos
com dificuldade de aprendizagem. Por ser
um programa novo vem se ajustando a cada ano, porém, à medida com que as
mudanças acontecem, as ideias principais tornam-se mais dispersas.
Nesse
trabalho buscamos analisar os objetivos iniciais do programa Salas de Apoio e
compará-los à atual realidade. Pesquisas como a de Oliveira e Macedo (2011)
apontam “descompassos entre os caminhos
trilhados pelo aluno na construção do conhecimento e o que significa a
aprendizagem na proposta governamental”.
A
seguir dispomos alguns desses descompassos e enfatizamos a realidade vivida nas
escolas, com base em autores como Charlot (2001) e França (2009) que já
abordaram o assunto sob diferentes aspectos.
2 O
Programa Salas de Apoio à Aprendizagem de acordo com a Secretaria de Educação
do Paraná
O
Programa foi criado em 2004, na intenção de recuperar alunos que ingressam aos
anos finais do ensino fundamental com dificuldades de aprendizagem, por meio de
atividades diferenciadas, em período contra-turno (RESOLUÇÃO nº 1690/2011
GS/Seed), de modo que voltem a acompanhar os colegas do turno regular.
Em
toda e qualquer escola as salas de apoio devem ser abertas automaticamente para
alunos de 6º ano e 9º ano. Nos demais anos, a abertura é feita sob solicitação
em caso de necessidade. Trabalha-se basicamente a superação de dificuldades nas
disciplinas de Português e Matemática. (Portal Dia a Dia Educação, aba Gestão
Escolar)
No
site da Secretaria de Educação encontram-se disponíveis duas fichas-modelo para
controle de encaminhamento do aluno, uma para cada disciplina de trabalho na
sala de apoio, e, para o acompanhamento de sua participação e situação no programa,
encontra-se nesse mesmo local um modelo de relatório semestral.
Imagem 1 – Ficha de
Encaminhamento Língua Portuguesa.
Fonte: Dia a Dia Educação.
<http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/ficha_lingua_portuguesa.pdf>
Imagem 2 –
Ficha de Encaminhamento Matemática.
Fonte:
Dia a Dia Educação. <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/ficha_matematica.pdf>
Na
Ficha de Encaminhamento são descritos os dados do aluno bem como seu nível de
aprendizagem até o momento de entrada no programa. Nas fichas das duas
disciplinas participantes do programa são discriminados tópicos de estudo onde o
professor deve assinalar o nível de aprendizagem do aluno com “SIM”,
“PARCIALMENTE” ou “NÃO”.
Com
base na ficha preenchida pelo professor regular é que o professor da sala de
apoio trabalha a recuperação do aluno, conhecendo os pontos nos quais deve
focar seu trabalho. O tempo de
permanência do aluno no programa está diretamente relacionado com seus
resultados. Assim que sua aprendizagem atinge um nível no qual o acompanhamento
em sala regular é possível, deixa de participar da sala de apoio.
No
caso do Relatório Semestral os resultados são colhidos para que se tenha uma
posição dos alunos depois de determinado período na sala de apoio. Esse
relatório é um arquivo do professor e nele devem constar todos os alunos participantes
do projeto.
Os
tópicos a serem preenchidos pelo professor da sala de apoio e apresentados à
secretaria são: lista de frequência; situação do aluno depois de um semestre de
realização do programa (desistente/desistente que
retornou/dispensado/dispensado que retornou/transferido/transferido que
retornou/permanência/remanejado); resultado final do aluno após os dois
semestres do programa (aprovação/reprovação); a forma sob a qual o aluno foi
aprovado (direto/conselho); se reprovado, qual(is) a(s) disciplina(s);
questionamento sobre as aulas dadas (conteúdos, métodos, dificuldades) e por
fim um questionamento sobre o programa em si (relato do professor, síntese de
todos os professores, acompanhamento pedagógico realizado).
Como
podemos perceber, a Secretaria de Educação do Paraná fornece ferramentas úteis
para a promoção e manutenção do programa, mas tais ferramentas não bastam para
que este se realize de forma eficaz. As Salas de Apoio precisam de muito mais
que “burocracia”. O aluno precisa sair de dentro delas com real capacidade de
aprendizagem, e apesar disso, tal necessidade não tem sido o principal foco de
muitas escolas.
3
Características de Professores participantes das Salas de Apoio à Aprendizagem
Segundo
a Resolução 139/2009, art. 25, o professor “ideal” para a sala de apoio à
aprendizagem deve participar do Quadro Próprio de Magistério e possuir
experiência em tal nível de ensino. É necessário ainda que o professor tenha
participado de cursos de capacitação referentes ao programa em anos anteriores.
FRANÇA
(2009) cita que medidas desse caráter garantem estabilidade aos professores que
já possuem experiência anterior no programa, menor rotatividade de aulas e maior
qualidade no trabalho.
Critérios
assim podem ser considerados pontos positivos no momento da nova aprendizagem,
analisando-se o fato de que as dificuldades encontradas pelos alunos de 6º ano comumente
provem das séries iniciais. São “rupturas” da aprendizagem que acabam se
estendendo e que precisam ser eliminadas para que o aluno volte a acompanhar os
conteúdos da classe o mais breve possível.
É
necessário que o professor da sala de apoio saiba procurar novos caminhos no
momento da aprendizagem, visto que, se algo não foi absorvido pelo aluno
durante a aprendizagem regular, a forma de ensino pode ter relação direta a
isso. No momento da nova abordagem seria interessante buscar tendências atuais de
ensino. Tais tendências, tanto da Língua Portuguesa quanto da Matemática, são
facilmente encontradas nas Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná (2008).
Charlot,
2001, p.13, cita que “o fracasso escolar
é um objeto de pesquisa inencontrável”, e quando falamos sobre salas de
apoio, estamos falando diretamente desse “fracasso”. O Programa Salas de Apoio
à aprendizagem trabalha com o não-aprender, um dos fatores mais importantes na
educação (OLIVEIRA e MACEDO, 2011).
França
(2009) nos impõe a ideia de que para que o programa atinja seus objetivos é
necessário que todos os membros participantes os entendam bem. Apesar disso
ainda podemos perceber um conceito destorcido do não-aprender por parte de
alguns professores. “Aprender é uma
reação de interesse, reação de tudo que desperta interesse de qualquer cidadão
e até de uma criança. Ele aprende desde que esteja interessado.” (Professor
Part. 1, apud OLIVEIRA; BIANCHINI; PIAI; FECHIO; SILVA; CARNOT, 2009).
Constata-se que o simples fato de se referir ao aluno com as palavras “até de
uma criança” já desmerece sua real capacidade de aprendizagem.
Independentemente
de metas, do apoio governamental, das características particulares de cada
aluno, da falta de compromisso por parte dos pais, enfim, dos muitos problemas
que poderiam ser dispostos aqui, o trabalho do professor dentro da sala de
apoio com o aluno ainda deve ser feito da melhor maneira possível, a fim de
recuperá-lo totalmente.
Obviamente
não se deixa de lado aquilo que, por direito, poderia aprimorar a sala de
apoio. A luta por ambientes adequados, recursos necessários, maior apoio e
envolvimento de todas as partes envolvidas, entre diversas outras coisas, não
deve acabar. O que enfatizamos é que enquanto essa luta acontece, os alunos
estão nas escolas e o programa também. O professor precisa saber ensinar com as
poucas ferramentas que tem em mãos, ao menos por enquanto. Para que funcione
bem, a dedicação de ambas as partes é muito bem vinda.
4 Teoria versus Prática: A Realidade das
Salas de Apoio à Aprendizagem
A
dificuldade de aprendizagem pode vir muitas vezes por problemas extraclasse,
que afetam a concentração e interesse do aluno. Dentre tais problemas podemos
destacar estilo de vida, falta de incentivo/ interesse dos pais, dificuldades
financeiras, entre outras realidades que dificultam a vida escolar.
Ao
ouvir professores e diretores, muitos parecem crer que o Brasil tem um sistema
educacional perfeito, desde que as crianças não tragam problemas e preocupações
de casa, ou seja, que vivam em um mundo perfeito, crianças que não existem.
O
déficit do aluno pode vir a ocorrer por motivos específicos, considerando o que
diz VIGOTSKY (2001, p. 109):
“Tomemos
como ponto de partida o fato de que a aprendizagem da criança começa muito
antes da aprendizagem escolar. A aprendizagem escolar nunca parte do zero. Toda
aprendizagem da criança tem uma pré-história.”
O
papel da escola é superar os obstáculos criados pelo passado e presente e dar
uma boa formação a cada aluno. Assim o educador precisa considerar o histórico
de cada aluno e refletir criticamente sobre suas ações e concepções, fazendo-se
adequar a realidade de sua sala de aula, no intuito de desfazer a alienação
social sofrida por cada aluno, fazendo-o apropriar-se
da riqueza material e intelectual produzida socialmente e incorporada as ser do
gênero humano. (DUARTE, 2001, 341)
Sendo esse o papel da escola, os
objetivos serão direcionados também às salas de apoio, que existem por boa
intenção, mas os resultados não são
favoráveis aos alunos tidos como vulneráveis, pois são colocados em um meio
escolar ainda mais vulnerável cujos elementos não concorrem para a promoção de
resiliência.(OLIVEIRA e MACEDO, 2011). Se o método adotado pelo professor tiver o
intuito de uma “sobrevivência imediata”, que é a aprovação, não terá real
sentido, pois levar o aluno para a série seguinte através de conselho de classe
por bom comportamento e avaliação por instrumentos que não verificam o
aprendizado acaba jogando o problema para frente, muitas vezes acarretando uma
deficiência que não será corrigida pelo resto da vida.
Os alunos, em sua maioria, creem que
a sala de apoio é um castigo e é aterrorizante, então, quando são orientados a
frequentá-la, sentem-se inferiores e, em alguns casos, são ridicularizados
pelos colegas.
Além
disso, podem não entender o real propósito das salas e nem sua importância para
a vida, mesmo que futuramente. Ignorando esses fatos, pode haver um outro porém,
muitos familiares tem a mentalidade fechada e acabam pensando como algumas
crianças, não apoiando e não permitindo que o filho frequente a sala de apoio.
Podemos constatar que, embora seja
algo positivo e bem formulado, o projeto “Salas de apoio” nem sempre é bem
visto, o que torna sua realização um grande bloqueio ao bom funcionamento das
instituições de ensino, pois o que está no papel dificilmente pode ser executado.
5 Considerações Finais
A partir do conceito de que
o principal objetivo das Salas de Apoio é a aprendizagem completa e qualificada
do aluno, o presente artigo buscou salientar quais os motivos pelos quais o
programa não tem sido trabalhado de maneira correta, não considerando a
psicanálise dos participantes do programa, mas sim suas determinadas funções e
os motivos pelos quais estas não se cumprem corretamente.
Buscou-se
ainda enfatizar que as salas de apoio devem ser algo eficaz, que realmente
possa qualificar o aluno durante o contra-turno e fazê-lo voltar a acompanhar
normalmente a classe regular.
Não
desconsideramos que, por ser um programa recente, diversos fatores, tanto de
caráter positivo quanto negativo, vieram e ainda estão por vir ao longo de seu
amadurecimento. Porém, o que se deve admitir é que, mesmo que determinados
fatores não sejam eliminados tão brevemente, a ideia de recuperar o aluno por
completo e alcançar seu aprendizado natural deve permanecer imposta.
Por
conclusão podemos afirmar que, para que o programa Salas de Apoio à
Aprendizagem seja capaz de obter bons resultados com o aluno, é necessário
tanto a adequação de determinados critérios e recursos dispostos pela
Secretaria da Educação do Paraná aos participantes do programa quanto a
determinação e imposição de tais participantes em busca de resultados
qualificados.
Salientamos
ainda, que pesquisas e discussões nessa área podem contribuir muito para a
educação, apontando caminhos que até então não haviam sido trilhados. Apesar
disso, as salas de apoio ainda não constituem vasto campo de pesquisa.
REFERÊNCIAS
CHARLOT,
B. Da Relação com o Saber: Elementos
para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2001.
FRANÇA,
I. S. Programa de Salas de Apoio à
Aprendizagem em Matemática: Minimizando as Dificuldades em busca da
integração para os níveis de Ensino Fundamental, 2009.
NETO,
E. A. P.; MOURA S. M. Papel do professor
de apoio permanente para alunos com necessidades educacionais especiais: Reflexões sobre as políticas e suas ações
educativas nas salas de ensino regular, 2011.
OLIVEIRA,
F. N.; MACEDO, L. Resiliência e
Insucesso Escolar: uma reflexão sobre as salas de apoio à aprendizagem. Estudo
e Pesquisa em Psicologia, Rio de Janeiro: 2011. v.11, n.3, p.98 –1004,.
OLIVEIRA,
F. N.; BIANCHINI, L. G. B.; PIAI, A. L.; FECHIO, M.; SILVA, J. C.; CARNOT, P.
L. T. Sala de Apoio à Aprendizagem:
Significações de
dificuldades de
aprendizagem para alunos e professores, 2009.
_______.
Secretaria do Estado da Educação. Instrução
nº 007/2011-SUED/SEED. Assunto: Critérios
para a abertura da demanda de horas-aula. do suprimento e das atribuições dos
profissionais das Salas de Apoio à Aprendizagem - 5" série do Ensino
Fundamental da Rede Pública Estadual. Disponível em: < http://www.educacao.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=151#2001>. Acesso em: 30
jun. 2013.
_______.
Secretaria do Estado da Educação. Fichas
de Encaminhamento. Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=28>
Acesso em: 30 jun. 2013.
_______.
Secretaria do Estado da Educação. Relatório
Semestral Salas de Apoio. Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=28>
Acesso em: 30 jun. 2013.
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